O SILÊNCIO É O PIOR DOS GRITOS: RESPEITEM AS MULHERES!
No último domingo, 25 de abril, presenciamos uma cena lamentável. No primeiro tempo do jogo Napoli vs. Bahia, pelo Brasileiro Série A1, o comentarista Edson Florão destacou os “cabelos exóticos” das jogadoras do time do Bahia e fez uma comparação das atletas com a cantora Margareth Menezes. Minutos depois, o narrador Paulo Cezar Ferrarin defendeu o comentário do colega após questionamento de um espectador no Twitter. Segundo o narrador, é muito “mimimi”. Na terça-feira, o narrador, ciente do erro, veio a público pedir desculpas. A CBF solicitou o afastamento de ambos e lamentou o evento.
Mimimi revela o descaso com o interlocutor. Ele desvela uma antipatia com a causa, a incapacidade de se pôr no lugar do outro. Classificar um discurso como “mimimi” é no mínimo a incapacidade de ler a realidade e sentir outrem.
A grande saída da plataforma de streaming Mycujoo, responsável, junto a uma empresa mediadora, está na discussão da possibilidade de apenas mulheres trabalharem em transmissões de jogos a partir de agora. O que também é lamentável. Quer dizer que mulher deve apenas fazer futebol feminino? A solução é tão ruim quanto o problema. O lugar da mulher no futebol não pode se condicionar a nenhuma categoria.
A mídia brasileira retrata, em vários momentos, elementos de um racismo estrutural. O termo racismo estrutural é um sistema, no qual, práticas reforçam e perpetuam a desigualdade racial e dão sentido aos privilégios da brancura. A estrutura atravessa os discursos e muitos naturalizam alguns discursos, como foi o caso da equipe que deu voz ao jogo do Napoli vs. Bahia.
Quando o grito racista vem da arquibancada rapidamente chamamos os criminosos de marginais. A mídia, exerce seu papel e a notícia ganha corpo. Entretanto, o caso do Brasileiro Série A1 foi discutido por poucos. Por que a mídia trata o mesmo crime de maneira diferente? Por que os agressores eram seus pares? Por que a vítima era uma mulher? Por ora, a medida foi o afastamento dos profissionais. A não cobertura, também é uma forma de preconceito e racismo estruturado nas redações.
Foto: Reprodução/CBF TV
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Henrique Neves é antropólogo por formação, mas esportista por natureza. Apaixonado por vôlei, aprendeu a jogar ainda pequeno. Escreve sobre esportes e ama praticar esportes radicais. É formado em Comunicação pela PUC-Rio. Fã de Vinicius Jr, torce pelo Flamengo.
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