Entrevista com Beatriz Melges: Explorando o Universo do Marketing de iGaming no Brasil 

Esporte e Mídia teve o prazer de entrevistar Beatriz Melges, consultora de marketing e iGaming no Brasil. Especialista na indústria, Beatriz concordou em compartilhar suas ideias sobre marcas, consultoria e o cenário emergente de apostas no Brasil. 

Beatriz destacou a importância da recente regulamentação no país, enfatizando seu papel de fiscalização no mercado e na garantia de práticas éticas. Ela discutiu o uso de influenciadores no marketing de apostas esportivas e a necessidade de transparência e responsabilidade tanto por parte das marcas quanto dos influenciadores.  

A entrevista também abordou a recém-lançada cartilha de boas práticas da CONAR e sua relevância para o mercado, apesar dos desafios em sua implementação. Além disso, Beatriz destacou a questão da presença feminina no setor, ressaltando a importância de criar espaços e oportunidades para as mulheres.  

Por fim, ela lembrou da necessidade de profissionalização e gestão eficiente no mercado de apostas esportivas no Brasil e destacou futuros desafios e oportunidades no setor de apostas esportivas e iGaming no Brasil.

Esporte e Mídia: Beatriz, é um prazer tê-la aqui. Para começar, como você percebe o cenário de apostas esportivas no Brasil? 

Beatriz: Primeiramente, obrigada pela oportunidade. Estou muito feliz e acredito que estamos vivendo um momento emocionante no Brasil, especialmente no setor de jogos. Com a recente regulamentação do mercado, estamos testemunhando uma era de oportunidades. 

Esporte e Mídia: A regulamentação certamente desempenha um papel crucial em qualquer setor. Quais desafios e oportunidades você enxerga no mercado brasileiro de jogos, especialmente do ponto de vista do marketing? 

Beatriz: A regulamentação desempenha um papel importante em qualquer mercado, especialmente em um país tão grande como o Brasil. No entanto, como em qualquer aspecto, há vantagens e desvantagens, dependendo da perspectiva. Para maximizar os benefícios, é essencial pressionar o governo, principalmente em relação à tributação. 

Quando consideramos o apostador e consumidor, a regulamentação é fundamental, pois orienta as empresas em direção a práticas mais éticas, promovendo a transparência e o entretenimento responsável. No campo do marketing, essa regulamentação, em conjunto com órgãos como o CONAR, desempenha um papel de direcionamento na promoção de práticas éticas e na educação dos consumidores. 

Precisamos de regras claras e distintas, especialmente quando se trata de jogos, que são essencialmente uma forma de entretenimento. Devemos vender essa ideia de forma transparente e ética, diferentemente do que foi feito no passado. Portanto, a regulamentação, especialmente no âmbito do marketing, é essencial. Ela não apenas ajuda a educar o consumidor final e a fornecer informações verdadeiras, mas também promove ações que são positivas, promocionais e, acima de tudo, divertidas, sem desviar do propósito original. Isso é especialmente importante dada a história de algumas empresas e influenciadores que não cumpriram esses padrões no Brasil. 

Esporte e Mídia: Você mencionou a importância dos influenciadores no marketing de apostas esportivas. Como você vê o uso de influenciadores nesse contexto? 

Beatriz: Os influenciadores são uma ferramenta poderosa no marketing devido à sua capacidade de se conectar com o público. No Brasil, somos o terceiro país que mais segue influenciadores no mundo e, se não me engano, estamos entre os três primeiros também em termos de compra de produtos promovidos por eles. Isso é algo que o marketing e a publicidade consideram como um dos melhores canais de tração. 

Quando se trata de escolher um influenciador, é importante entender que você está contratando alguém por sua audiência e pela conexão genuína que ele tem com ela. É importante compreender que os influenciadores têm sua própria voz e autenticidade, e é isso que os torna eficazes. Além disso, tanto a marca quanto o influenciador têm uma grande responsabilidade com sua audiência, pois estão influenciando as pessoas de alguma forma. 

Ao selecionar um influenciador, é essencial considerar seu posicionamento, associando a imagem da marca com a reputação e discurso do influenciador. Isso não só orienta a escolha, mas também determina a mensagem que se deseja transmitir. É uma parceria que precisa ser cuidadosamente alinhada para garantir uma comunicação ética e responsável. 

É importante destacar que essas parcerias geralmente são de longo prazo e requerem comprometimento de ambas as partes. Além disso, em um mercado recentemente regulamentado, como o de apostas esportivas, é essencial educar tanto os consumidores quanto os influenciadores sobre as práticas responsáveis nesse setor.  

No final do dia, estamos vendendo entretenimento e diversão para as pessoas em suas casas, e essa consciência deve guiar nossas ações. Com colaboração e responsabilidade, a parceria entre marcas e influenciadores pode ser benéfica para todos os envolvidos, contribuindo para um trabalho ético e eficaz. 

Esporte e Mídia: Falando sobre responsabilidade, poderia comentar um pouco sobre a recente cartilha da CONAR, quais são os aspectos que você considera mais positivos e quais podem representar desafios? 

Beatriz: A cartilha é um passo importante na direção certa, especialmente ao promover o jogo responsável. Na minha visão, é extremamente importante, pois representa um pequeno passo que ajuda a guiar todos na mesma direção. Ela estabelece as diretrizes necessárias, especialmente no que diz respeito ao jogo responsável, uma área importante que exige conscientização e instrução. Todos os operadores devem se comprometer a criar um ambiente seguro e responsável para seus usuários, implementando ferramentas como limites de apostas e educação sobre os riscos associados ao jogo. 

No entanto, de forma realista, no Brasil, enquanto não houver uma legislação obrigatória, muitas empresas podem hesitar em adotar práticas que possam limitar suas vendas ou lucros. O momento atual é de aquisição e investimento significativo para as casas de apostas, o que pode desviar a atenção das práticas responsáveis. Portanto, é essencial que os líderes dentro das empresas assumam a responsabilidade de implementar uma cultura de jogo responsável e ética. 

Estamos testemunhando a formação de diversos grupos e associações, como os de responsabilidade social e presença feminina na indústria do jogo, o que é um passo positivo. No entanto, é necessário um esforço conjunto para garantir que essas práticas se tornem parte integrante da cultura do setor no Brasil. Apesar dos desafios, é fundamental reconhecer a importância dessas medidas para construir uma indústria de apostas mais segura e confiável, especialmente em um país com histórico de desconfiança em relação ao jogo e seus impactos negativos na sociedade e na saúde mental das pessoas. 

Esporte e Mídia: Já que tocou no assunto, vamos falar sobre a presença feminina na indústria de jogos. Como você vê o papel das mulheres nesse setor e quais desafios e oportunidades elas enfrentam? 

Beatriz: A questão da representatividade feminina no mercado é algo muito próximo do meu coração, por razões óbvias. A presença feminina na indústria de jogos ainda é limitada, mas há um grande potencial para mudanças positivas. A luta por espaço para as mulheres ainda é uma batalha diária. Parece que, no setor, tudo que um homem consegue fazer tem todas as probabilidades e estatísticas superiores à nossa, não por falta de mulheres competentes, mas sim por falta de oportunidades. 

Por isso, gostaria de aproveitar este espaço para parabenizar a iniciativa recente de lançamento da AMIG, associação de mulheres da indústria Gaming, no SBC. É esse tipo de ação que precisamos. Precisamos criar espaços onde elas possam estar presentes e respeitadas pelo trabalho que entregam. O setor é predominantemente masculino, mas isso não precisa ser assim. Mulheres têm capacidade e talento para estar nele, tanto quanto homens. 

É fundamental que os homens que já construíram esse setor entendam a importância de abrir espaço e dar voz às mulheres. A diversidade não é apenas uma questão de números ou estatísticas, mas sim de resultados. Quando temos uma equipe diversificada, temos uma perspectiva mais ampla e alcançamos um público maior. 

Além da questão de gênero, precisamos falar sobre diversidade e inclusão em todas as suas formas, incluindo raça e idade. O desafio para o mercado agora não é apenas reconhecer a importância da diversidade, mas também agir de forma proativa para apoiar e promover grupos minoritários. Isso significa ir além das palestras e realmente fazer a diferença em termos de inclusão e oportunidades iguais para todos. 

Esporte e Mídia: Por fim, quais são suas perspectivas para o futuro do marketing e do jogo no Brasil? 

Beatriz: Vejo um futuro promissor, com oportunidades crescentes de profissionalização e inovação. À medida que o mercado se desenvolve, é fundamental focar na gestão eficaz e na responsabilidade social, criando um ambiente sustentável e inclusivo para todas as partes interessadas. 

Eu acredito que o desafio central seja criar estruturas que promovam a inclusão de outras mulheres e incentivem a entrada de mais profissionais capacitadas nesse mercado. É fundamental que as líderes femininas atuem na criação desses espaços, garantindo oportunidades iguais para todos. Além disso, devemos assegurar que sejamos ouvidas e reconhecidas pelo nosso trabalho e competência, sem que haja distinção entre gêneros. 

Acredito que ainda há um longo caminho a percorrer nesse sentido, especialmente em um mercado como o de iGaming, que está em constante evolução. Por esse motivo, é essencial desenvolvermos boas práticas de gestão de pessoas, processos e negócios para construirmos empresas sólidas e bem-sucedidas dentro do universo de igaming no Brasil. 

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