Coluna do Professor #379, por Albio Melchioretto (Brasil acima de todos)

O patriotismo é um sentimento que eu tenho dificuldades para entender. No livro “A Crítica da Razão Tupiniquim”, o pensador brasileiro Roberto Gomes, o autor questiona se há um pensamento genuinamente brasileiro. O nosso modo de pensar, historicamente é constituído de vários enredos culturais, que na maioria das vezes ignorou o modo indígena de pensar. Em tempos globais, o localismo é pulverizado por uma ordem transnacional. Parafraseando Roberto Gomes o patriotismo não passe de um delírio. A coluna apresenta três exemplos para questionar a ideia de nacionalismo no esporte.

Albio Melchioretto
albio.melchioretto@gmail.com
@professoralbio

O primeiro e-Prix de Berlim, da F-E, foi vencido por DiGrassi. Marco de Varga, TV Cultura, gritou várias vezes, Brasil, Brasil, Brasil. O Brasil venceu! Venceu o que mesmo? O piloto era brasileiro, mas a equipe alemã, engenheiros da Alemanha, Inglaterra e outras nacionalidades. Patrocinadores multinacionais. Uma competição de pilotos e construtores, com o inglês como idioma principal. As comunicações do piloto pós-corrida foram todas em inglês. Onde está o Brasil que venceu? Apenas na nacionalidade do piloto, pensar qualquer coisa além disto é delírio.

Pensar a nação, nem mesmo numa copa do mundo faz sentido. No mundial de Beach Soccer (que deveria ser olímpico!) há brasileiros naturalizados em outras seleções. Nem mesmo a seleção da CBF é Brasil. É um grupo de pessoas filiadas a uma confederação, que podem ou não ter nascidas no Brasil, basta estar naturalizados. Torcedor pelo time da CBF, ou pelos compatriotas é uma questão de escolha, mas não dá para transformar isso em patriotismo porque beira a ideologia. E como há políticos que adotam este expediente para transformar torcedores em seguidores. Basta voltar para a história e ver o que a Alemanha de Hitler fez nos jogos de Berlim-1936.

Que o domínio de clubes brasileiros na semifinal da Libertadores não crie a ilusão que somos o país do futebol e que nossa liga seja boa. Segundo a SkillCorner, entre 28 ligas pesquisadas, o Campeonato Brasileiro está na posição 26 de intensidade, atrás da MLS (Estados Unidos); LPF (Argentina) e Liga MX (México), para citar as da América, há algumas divisões inferiores na Europa com maior intensidade de jogo que o Brasileirão. Como gritar patrioticamente, quando os resultados mascaram a turbulência organizacional?

Troço para que o Brasil tenha um projeto nacional de formação de esportistas ligados a projetos sociais; que tenhamos centros de excelência do esporte em todos os estados; torço para que tenhamos mais pilotos locais vencendo em categorias de ponta. Mas tudo isso não se faz com um discurso Brasil, Brasil e Brasil. Se faz com políticas públicas para o esporte e com um projeto de educação que desenvolva, antes de qualquer outra coisa, a cidadania. Fugir disso é delírio nacionalista para esquecer todos os problemas que temos.

Aposta nas melhores casas de apostas do dia 10 de Novembro 2025

Cloudflare rayID 99c93d96ca73165c

dcKey a428c860219c2a36f4161b17cd5f0811

Deixe um comentário

Você está aqui: Início > Últimas Notícias > Coluna do Professor #379, por Albio Melchioretto (Brasil acima de todos)