A procura da manchete perfeita, por Alipio Jr.

Alipio Jr. – colunista do esporteemidia.com
@alipiojr

A procura da manchete perfeita

Qual é a função do jornalismo? Qual é o papel do jornalista?
Segundo o site InfoEscola é “(…) buscar informações em diversas áreas, divulgando-as ao público em geral (…)”, já o Observatório da Imprensa diz que há uma função social. E nas palavras do redator “É preciso traduzir e interpretar a informação, atribuindo sentido e precisão e dando ao receptor a possibilidade de refletir sobre ela”. São afirmativas interessantes e ainda que discordemos, não fugiremos muito disso.

Agora, se transpormos essas perguntas para a Mídia Esportiva, para o Jornalismo Esportivo. Quais seriam as definições? Até que ponto as paixões clubísticas de um jornalista, influenciarão o seu texto ou tentarão declaradamente conduzir o leitor, sem dar-lhe a oportunidade de pensar sobre aquela notícia recebida?

Esta semana, após o jogo do Brasil contra o Japão em Singapura, o goleiro Jefferson do Botafogo, após uma viagem de 26h, envolveu-se (ou foi envolvido) numa polêmica sobre a sua participação num jogo de quartas-de-final da Copa do Brasil contra o Santos. De acordo com o noticiado pela imprensa, o Executivo remunerado do clube orientou a sua apresentação e o jogador afirmou não ter sido comunicado e por isso, manteve a sua programação normal.

A partir daí foi a carnificina de sempre, sobre a qual venho falando semanalmente neste espaço. E quanto a isso, quero deixar claro que não há no meu discurso nenhum puritanismo de pensar que a imprensa será imparcial ou inocente nessa história. Como bem disse Carlos Dorneles em seu livro de mesmo título, “Deus é inocente, a Imprensa não”. E aqui como lá, quero combater os superlativos de apenas um lado. Nosso futebol move os jornais e as manchetes precisam ser escandalosas para gerar interesse, mas a mídia esportiva tem como função (social ou nao) oferecer a outra parte para que o leitor decida no que acreditar.

Algo feito, por exemplo, pelo comentarista PVC da ESPN em um de seus debates esportivos, aproveitando matéria do Thiago Franklin do Blog do Torcedor que cobre o clube. Numa entrevista com o goleiro, semanas antes do jogo, Jefferson já anunciava as dificuldades de voltar de viagem e participar de um jogo normalmente. Ao mesmo tempo, ao analisarmos suas 26 convocações, entre titularidade e reserva, em nenhuma delas ele se reapresentou e foi para o jogo em seguida. Ora, não foi preciso ir muito longe para saber disso, mas a informação não foi dada.

No “Debate Esportivo” da Rádio Globo Carioca, um dos trepidantes disse que era um absurdo que o clube fomentasse esse tipo de notícia e a briga entre jogador e homem-forte do futebol e que, pasmem, deveria partir do próprio clube o fim dessa história. Interessante ponto de vista. Mas no espaço dedicado ao clube carioca no programa, os comentários sobre o jogo foram esquecidos e resumiram-se a esse entrevero, com dezenas de opiniões tendenciosas e em momento algum, ofereceram outras possibilidades para que o espectador decidisse para ou condenasse uma das partes ou inocentá-la.

Então fica claro que apesar do que diz a Associação dos Jornalistas através da FENAJ, ABI, ABRAJI e tantas outras, insistirei enquanto leitor e consumidor, que é preciso desnudar o caso como um todo. É possível informar o assunto que será manchete e se houver um pouquinho de boa vontade, oferecer o outro lado da história como se apressaram em fazer alguns segmentos da mídia esportiva atual.

Alipio Jr.

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Henrique Neves

Henrique Neves é antropólogo por formação, mas esportista por natureza. Apaixonado por vôlei, aprendeu a jogar ainda pequeno. Escreve sobre esportes e ama praticar esportes radicais. É formado em Comunicação pela PUC-Rio. Fã de Vinicius Jr, torce pelo Flamengo.